Nos últimos dois anos, a indústria do cinema sofreu profundamente, como é sabido, no entanto, no final deste ano de 2021 alguma vida voltou a pulsar nas salas de cinema, com o lançamento do mais recente capítulo do universo cinemático Marvel: Spiderman: No Way Home, que já conta com mais de um milhar de milhão de dólares arrecadados em bilheteiras por todo o mundo.
Trata-se de mais uma prova da preferência deste tipo de filmes pelas massas e a supremacia dos filmes de super-heróis na indústria, uma tendência que veio transformar os métodos das grandes produtoras de Hollywood, que centraram a produção dos seus blolckbusters neste género e, de facto, resulta, pois, por exemplo, no caso da Marvel, dez dos seus filmes ultrapassaram esta marca do milhar de milhão em bilheteira nos últimos dez anos. No entanto, o que causa exatamente este sucesso, e o que significa para a indústria cinematográfica?
Não posso excluir-me da multidão que aprecia estes filmes, visto que também fui ao cinema quase dois anos desde a última vez para ver este mesmo filme, e saí satisfeito, como toda a audiência, no geral. Porém, estes produtos que conseguem produzir lucros imensos seguem um padrão formulaico, algo apontado até por grandes nomes do cinema, Martin Scorsese catalogou-os como uma ida ao parque de diversões e de não serem verdadeiro cinema, Ridley Scott apontou para guiões narrativos aborrecidos e pouco ousados. São filmes que antes da arte, são um produto que almeja maximizar o lucro e deixar o palco pronto para o próximo, e isto reflete-se no cinema atual, uma indústria onde a visão artística é sufocada em proveito do lucro que este tipo de filmes trazem.
Uma obra-prima cinemática fica na memória pela sua estética, passam de geração em geração, a sua mensagem, valores, personagens deixam uma marca duradoura, essencialmente. São experiências intemporais para serem apreciadas e reapreciadas, e estas produções, no entanto, refletem toda uma atitude perante o quotidiano, de experiências imediatas e descartáveis, para um público impaciente que exige recompensa e satisfação momentânea, o espelho da atualidade em que informação é acessível e, no entanto, apenas se rodeia por aquela que satisfaz a opinião individual de cada um, uma realidade onde o debate de valores e ideologias encontra-se quase impossível de se concretizar sem ser reduzido a um amontoado de insultos, ou seja, apresentar algo por definição "diferente", que apanhe o estipulado de surpresa é uma jogada arriscada que, quando envolve dinheiro, torna-se impensável, e no cinema, na sua arte, que procura explorar os seus limites e confrontar o público através dos seus atores, técnicas de filmagem, narrativas. Basicamente, a arte do cinema tornou-se inviável, mas o negócio do cinema está vivo e de boa saúde, uma máquina bem oleada que produz e lucra quase sem margem margem de erro, sem risco.
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