Em quê que as marcas tornam-nos? - O novo Citroën 

     Se no meu primeiro texto argumentativo de certa madeira expliquei o surgimento de conexão entre indivíduos com cultos/desejos a marcas, eu agora proponho-me a analisar o lado negativo, de maneira mais profunda o que essas conexões nos deixam ser atualmente. 

    Como explicado no meu último texto argumentativo, este surgimento de ligação entre a pessoa e a marca/carro/empresa ganhou cada vez mais poder ao longo da vanguarda artista “pop art”. No fundo, a pop art passa por ser uma reflexão do quotidiano americano da altura, assim passamos por usar técnicas mais rápidas de impressão como serigrafia, a presença da cara do presidente em grande partes das obras como sinónimo de símbolo e representatividade, o uso de cores vibrantes, a grande aposta em logótipos de empresas e tornar estes logótipos em objetos em todas as casas americanas. Nesta atura estávamos a passar por um enorme boom comercial em toda a América, que mais tarde se expandir também pela Europa. 

    Mas como funciona esta ligação entre o desejo de ter algo? No livro Buyology, o escritor Martin Lindstrom  explica o que são os neurónios espelho e como eles nos influenciam no dia a dia, no fundo, estes neurónios estão presentes no nosso cérebro e consistem na ligação entre a nossa visão e desejo. Quando alguém observa uma pela de roupa numa publicidade, com uma/o modelo, esta pessoa visualiza-se a ser o/a modelo nesse momento com a peça de roupa vestida. Aqui é criada no nosso cérebro uma ideia de desejo/necessidade de se apresentar de x maneira, neste caso, como a/o modelo.

    Este foi um “segredo” guardado por grandes empresas de publicidade de marketing por muitos anos, hoje, nós temos certas atitudes/compras que certas vezes não são mais do que o desejo de comprar/desejo de se sentir como vemos e não por necessidade. 

    Esta ligação entre a pessoa e o desejo ganhou muito mais relevância quando houve o surgimento de redes sociais, isto também é refletido num documentário disponível na Netflix,  “Fyre festival”, onde uma empresa organizou um grande festival numa ilha e pagou milhões de dollars para que o festival fosse publicidade nas contas de Instagram mais famosas do mundo. Este é mais um exemplo de criação de um desejo, aqui os indivíduos depararam-se com a publicidade das pessoas que seguiam, e querendo ou não lhes cresceu o desejo de aderir ao festival. 

    No texto “o novo Citroën” quando o autor aborda “O novo Citroën cai manifestamente do céu, enquanto se apresenta, antes de mais como um objeto superlativo”, este facto deve-se à criação mental dos indivíduos em relação a este objeto. Está criação nada mais é do que um fruto de uma era comercial, bombardeada de publicidade e imagens mentais de como nos podíamos tornar. 

    Concluindo, esta é uma prática usada pelas marcas, em que de um lado temos o lado comercial das marcas que precisam de vender e o lado do cliente que ganha o desejo de comprar mesmo quando não o deseja, será que presentemente as marcas se aproveitam destas nossas fragilidade e da falta de leis que combatam estes atos para gerar lucro? 


Referências:


Buyology, Martin Lindstrom 2008 

Documentário “Fyre festival” Netflix 

“The Trial of the Chicago 7”, resistência e incorporação

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