O valor das coisas

Quando encomendo uma peça de roupa, de um certo modelo, de uma empresa multinacional, não me interessa escolher entre as peças produzidas, porque as suas características e preços são iguais. Ao usá-la (em viagens por exemplo) posso associá-la a acontecimentos e por isso atribuo-lhe um valor sentimental. Assim essa peça passa de ser substituível (fungible) para única (non-fungible).

Uma obra de arte digital é também única e existem várias formas de a comercializar. Uma delas é vendê-la como um NFT (Non-fungible token) por uma blockchain, que guarda a transação publicamente na internet. Uma das perguntas mais frequentes sobre este assunto é a seguinte: Porque é que alguém compraria um NFT se essa arte é digital e a sua visualização é acessível por toda a gente? A razão é para apoiar financeiramente artistas que gostamos.

Esta forma de vender tokens digitais foi rapidamente transformada numa forma das grandes empresas lucrarem. A NBA (National Basketball Association) aproveitou-se logo deste mercado digital, editando clipes de jogos (NBA Top Shot Moments) como tokens destinados a fãs colecionadores. Por exemplo, um clipe do LeBron James numa transmissão de um jogo de basquetebol foi vendido por mais de $200,000 pela NBA Top Shot. Neste negócio os compradores não obtêm os direitos de transmissão do vídeo, só o certificado público de proprietário de uma arte digital única.

Este mercado de colecionáveis digitais da NBA mostra uma indústria cultural perigosa, que realça a falsa necessidade que as pessoas dão aos produtos do capitalismo.

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