Neste semestre eu estive a pesquisar um dos novos conceitos da antropologia contemporânea, defendido e sustentado pela Donna Haraway, conhecido como natureculture. A ideia é reconhecer natureza e cultura como um sistema inseparável dentro das relações ecológicas que são socialmente e biofísicamente formadas. A escritora acaba por colocar uma interrogação no porquê esse dualismo entre o natural e o herdado sempre existiu na nossa consciência humana.
Por "cultura" entendemos ser tudo aquilo que nós aprendemos: culinária, língua, música, tradições e tantos mais. No entanto, se olharmos para as relações estabelecidas entre um grupo de animais, podemos claramente perceber o nicho ecológico criado e desenvolvido por cada espécie no mundo. As tradições de banho entre os elefantes, os encontros de macacos para recolha de parasitas nos corpos uns dos outros, a forma de exibição durante um acasalamento, tudo isso é herdado da mesma forma e tão arcaicamente entre os animais e entre nós.
Diante desse cenário e do que foi presenciado nas aulas de Cultura Visual, é curioso pensar como o Ser Humano intitulou-se enquanto um Ser Cultural, automaticamente a ignorar toda e qualquer possibilidade de uma ligação com o Ser animal. Essa alienação, criada quando a sociedade ainda começou a se organizar em terras sedentárias, agravou um deslocamento no espaço-tempo e o consequente estranhamento de nós com outros seres vivos. A própria criação dos zoológicos no paradigma do Século XIX é um resultado dessa vaidade humana que insiste em dominar e construir uma falsa consciência da realidade. Não é de se surpreender, também, quando Charles Darwin criou a teoria evolucionista e esta foi amplamente mal aceita e motivo de chacota na imprensa quando primeiramente divulgada.
Ignoramos o natural, mas esquecemos que acabamos também por ignorar a maior naturalidade de todas as vidas: a morte.
O alimento de origem animal produzido pela indústria é, até hoje, o resultado desse distanciamento que nós temos com a morte e com as condições envolvidas no falecimento de outros seres vivos. O "filtro" que colocamos pelas relações e coisas que vivemos não permite alcançar uma equidade no patamar com os animais.
Somos Seres Culturais, não animais.
Júlia Prata, nº 12483.