Na perspetiva Lacaniana o Real é impossível. No entanto, Lacan utiliza os termos do Simbólico e do Imaginário para o definir.
Jean Claude-Milner (2006) define esse registro como: "um agregado onde não se estabeleça nenhum laço, nenhuma propriedade, nenhuma similitude ou dissimilitude, isso é o real" (MILNER, 2006, p.49). É importante mencionar que para Lacan o conceito de Real e realidade tem significados diferentes, o Real "não cessa de não se inscrever" ou seja tenta-se dar significado aquilo que não tem sentido. Dar sentido a algo é a função do Simbólico, mas paradoxalmente o sentido é sempre Imaginário. Para o psicanalista o Simbólico é um registo responsável por organizar e ordenar, só a partir dele é que se poderá ordenar o Real e o Imaginário. Já o Imaginário assume uma conotação de ilusão, trata-se da relação que um indivíduo estabelece com a formação da sua imagem perante algo.
Conciliando estes três registos (Real, Simbólico e Imaginário), Lacan, em 1936, cria uma expressão designada de estádio do espelho, que ilustra um momento psíquico da evolução humana que decorre entre os 6 a 18 meses de vida. É uma experiência onde a criança perceciona a imagem que vê no espelho. No início, a aparência é a de um desconhecido, mas com o passar do tempo apercebe-se que representa a sua pessoa, já que se apercebe que o espelho é uma superfície lisa e fria e, por isso, não pode ser outro bebé e assim acaba por se reconhecer como sendo ela própria. Esta terminologia tem origem na experiência de Henri Wallon, em 1931, denominada de prova do espelho onde a criança é colocada diante de um espelho e passa progressivamente a distinguir o seu próprio corpo da sua imagem refletida, o que retrata uma compreensão simbólica do espaço imaginário. Lacan diverge da ideia de Wallon concluindo que o processo de auto-reconhecimento da criança não é algo consciente, mas sim um processo inconsciente que faz parte do imaginário da criança.
Hugo Ferreira, Nº12740