Certo dia, o meu irmão
decidiu renovar o seu quarto. Para tal, decidiu entregar-me alguma da sua
mobília antiga para dar espaço à nova, colocando-a no meu quarto. No entanto,
para esta se inserir, uma grande mudança teve de ocorrer no espaço,
retirando-se e rodando objetos, colocando-se novos elementos, até o cenário ter
ficado totalmente diferente. Quando retornei ao quarto, deu por mim com uma
paisagem totalmente diferente. Embora mais organizado, e, francamente,
espaçoso, a minha primeira reação foi de desgosto. No que toca a falsificar
emoções, sou péssima atriz; foi nesse pequeno momento que o meu pai, sendo
honesto, me falou "Tens de te habituar às mudanças". Mudanças,
podendo ser boas ou más, começam sempre por ser inicialmente desconfortáveis.
Todos gostamos de viver na nossa pequena bolha de conforto, e se alguém decide
ir lá rebentá-la, não estamos prontos para encarar o exterior.
No entanto, embora tenha
havido uma transformação, o meu quarto continua a ser o mesmo espaço de sempre.
O calor, o seu tamanho, o armário inbutido na parede, e todas as suas outras
caracteristicas que o distinguem das outras divisões da casa, continuam lá. Não
é por ter alterado o seu significante, que o significado tenha mudado. Este ainda
permanece. Tais como palavras mudam o seu som e a sua forma linguistica
consoante a lingua, a sua essência, o seu significado universal permanece, até
certo ponto, imutável.
Mudanças, consoante o seu
contexto, conseguem ser altamente perturbadoras, ou excelentes oportunidades de
crescimento, pois tiram-nos da nossa zona de conforto. Claro que se demolisse o
meu quarto, e construisse um novo por cima já não seria mais o mesmo. Aí, já
seria uma autêntica transformação, acabando por perder até um pouco do seu
significado original.
Atualmente, prefiro o
conforto e funcionalidade do meu quarto, ao que se encontrava anteriormente; apesar
da estranheza inicial, logo me afeiçoei e me adaptei após sentir a mesma
familiaridade e intimidade que sinto com o espaço.