Enquanto leio textos com uma semântica mais rigorosa tendo a encontrar algo dentro do meu referencial cultural para criar uma ligação entre o que leio e o que conheço, numa tentativa de melhor retenção de informação e fluidez de pensamento.
A leitura de Marx sobre os conceitos de fetiche e mercadoria, em particular a determinação do valor da mercadoria a partir das relações sociais entre os participantes, lembrou-me de “Century of the Self” - um documentário de Adam Curtis sobre a mudança no estilo de publicidade no século XX. As ideias de Edward Bernays teciam uma teia de sonhos, sempre representados materialmente, no subconsciente dos americanos. A indústria da beleza, agora dedicada às recém-formadas massas consumidoras desse século, impregna a ideia da perfeição desejada e atingível às donas de casa, por um preço apelativo e um skill set básico.
A super-mulher que cuidava da lida da casa, dos filhos e que no final do dia, quando chegava o marido a casa, recebia-o de penteado perfeito com a ajuda do seu ferro de encaracolar, olhos desenhados com o lápis mais recente do mercado e uma figura elegante provinda dos comprimidos de emagrecimento publicitados na revista.
Ao avançar para o século XXl, vemos o domínio que essa indústria manteve sobre o papel de uma mulher em sociedade. Apesar das críticas e da defesa do amor-próprio e autêntico, o corpo é, mais que nunca, distanciado do sujeito por si próprio e associado ao sujeito por outros. Como resultado do ambiente em que estão inseridas, as mulheres são valorizadas de acordo com o seu contributo físico. Neste esquema, o corpo pode ser visto como um produto. Embrenhado, claro, de uma identidade, mas acima de tudo um produto.
Balenciaga fazer sentir a ideia do anonimato, a figura de Kim K. é imediatamente reconhecível como a sua marca. Como todos os anos, o Met teve um tema e este ano esse foi American Fashion. Dentro das inúmeras teorias que surgiram para justificar a escolha de indumentária, a minha favorita é a de que não há nada mais americano do que criar um sonho consumista - figura alterada por meio de posses- que entretém e com um valor questionável que ninguém, na realidade, pode realizar.