Lidar com a consciência das várias formas de viver a realidade social tem sido uma experiência especialmente emocional para mim.
Os media e as redes sociais vieram solidificar as paredes das nossas próprias cameras obscuras, separando cada vez mais a nossa a perceção da de outras pessoas, fomentando a confiança que cada um tem nas suas próprias ideias e ideologias, com grande certeza e convicção. O que nos deixa muitas vezes profundamente incomodados quando nos deparamos com pessoas que partilham uma opinião diferente, às vezes até ofendidos.
O tipo de consciência mais correto a adotar, principalmente nesta contemporaneidade, é o de todos os níveis sociais possíveis: é sentar num palco de frente para o público, e onde todos os espectadores estão todos de costas para ti, absortos no espetáculo das suas próprias cameras obscuras, e onde és capaz de ver várias perceções ao mesmo tempo. Também é necessário fomentar em nós próprios os mecanismos que fazem a nossa máquina social funcionar e criar essas visões tão divergentes.
Venho de uma família de gerações de polícias, GNRs, militares, e outros corpos de intervenção, o que me proporcionou o melhor palco possível para entender porque são tão auto vitimizados, incompetentes, odiáveis, e ao mesmo tempo infantis, ingênuos, e auto destrutivos.
Para mais facilmente explicitar a minha perspetiva irei usar o exemplo do meu pai. Nascido na década de 70 numa vila longe de tudo onde o 25 de abril deve ter chegado, com sorte, nos anos 90, ele teve a toda a formação à Estado Novo onde a autoridade quer fosse o pai dele, o professor, o padre ou Deus, era o centro de toda a sua realidade como a de todos à sua volta. Já de início o melhor começo de vida possível para exercer a sua profissão. Nos seus 20 anos, vem trabalhar para Lisboa como polícia e trás consigo a camera obscura que durante toda a sua vida teve o cuidado de construir.