Quando vemos alguém a passar por nós na rua, é fácil de
perceber a sua classe económica apenas pela sua aparência? E a sua orientação
sexual?
A falsa consciência, como conceito derivado da teoria de
classe social de Marx, refere-se “à deturpação sistemática das relações sociais
dominantes na consciência das classes subordinadas”. Assim, denota a
incapacidade das pessoas de reconhecerem a desigualdade, opressão e exploração que
acontece na sociedade por causa da prevalência dentro desta de visões que
banalizam e legitimam a existência de classes sociais.
Apesar de ser mencionado maioritariamente no tema de
economia e trabalho, desde o final do século XX, este conceito tem sido
aplicado em discussões sobre opressão de género, orientação sexual, etnia e
raça.
No nosso dia a dia, é normalizado que uma pessoa é heterossexual
por definição, o que faz com que seja necessário às pessoas que não o são a
contarem à sua família, amigos, conhecidos e qualquer nova pessoa que entra na
sua vida.
Assim, tal como as pessoas de classes mais baixas têm impostas
a ideia de que é normal ter de trabalhar das 9h às 17h todos os dias para
conseguir dinheiro para as suas necessidades, pessoas LGBTQ+ têm impostas a ideia de
“sair do armário” ou esconder a sua orientação até saberem se é seguro contar
para aquela pessoa ou grupo e, se não, esconder sempre uma parte de quem são
enquanto estão com ela(s).
Ambas estas ideias foram impostas pelos grupos maioritários respetivos e foram tornadas num assunto trivial que elas têm a obrigação de enfrentar apenas porque foi normalizado por esses grupos, sem terem em conta a injustiça que causa.
Então, é possível perceber a classe económica e/ou orientação sexual de alguém que passou por nós por alguns segundos uma única vez? Provavelmente não sem fazermos algum tipo de generalização e sem passar-nos pela cabeça alguma destas ideias colocadas pela falsa consciência.