Tudo está tão distante, mas ao mesmo tempo tão próximo


De acordo com a física, o tempo é uma linha contínua, não existindo passado, presente ou futuro. O mesmo se pode dizer com o espaço. Para que estas noções de tempo e de espaço se formem é exigido um sujeito. Na aula de dia 9 de novembro, durante o “passeio” pela  Faculdade de Belas-Artes, o professor de Cultura Visual explicou-nos estas noções.

Falou-nos também do edifício da FBAUL, da sua história e de todo o contexto da zona da Baixa Chiado. Naturalmente, abordou o tema do terramoto de 1755, e, curiosamente, mencionou um espaço que me é muito familiar, a Escola Artística de Dança do Conservatório Nacional, com que convivi durante cerca de 9 anos. São edifícios com histórias semelhantes, atravessaram décadas, séculos até chegar a nós, com várias alterações, ocupações e ambientes. E neste momento ambas são escolas de ensino artístico. 

Durante os meus anos no conservatório sempre me fascinei pela história do edifício. Às vezes dava por mim a subir as escadas de degraus altos de pedra grossa e muito gasta, idênticas às das Belas-Artes, e a pensar no que já teria acontecido ali. Quem teria vivido e morrido ali. E pensava sempre em mim com uma privilegiada, por poder “pisar história”. Quando entrei em 2019 para esta faculdade, anos depois de sair do conservatório, dei por mim a ter os mesmos pensamentos. 

No conservatório tive a sorte de ter um excelente professor de Educação Visual, Rui Oliveira, que tal como o professor João Paulo Queiroz, nos educou sobre a história do lugar onde estudávamos. Lembro-me de estar à janela com um colega, e o professor vir ter connosco e no desenrolar da conversa nos contar que aquele edifício tinha sido um palacete presenteado ao Marquês de Pombal após as reconstruções de Lisboa depois do terramoto. Contou-nos que por onde entram atualmente os alunos na escola, ficavam os estábulos para os cavalos dos convidados. 

Nas Belas-artes, o professor João Paulo Queiroz contou-nos que a entrada atual da faculdade originalmente não existia, mas que depois do desastre foi improvisada. Explicou-nos que o edifício já foi um mosteiro e uma biblioteca, entre outras coisas, e que no atual Largo da Academia Nacional de Belas Artes havia uma pequena igreja.

 

 Iniciei esta reflexão falando sobre a continuidade do tempo e é com ela que a termino. 

Vivemos numa linha infinita de tempo. A consciencialização desta realidade parece que acentua o meu interesse e fascínio pelos espaços e pelas suas histórias ou até memórias. — Estaremos nós assim tão longe desses tempos, em que os edifícios foram construídos e destruídos e reconstruídos, e das pessoas que os habitaram? 

É uma pergunta sem resposta, mas que me dá prazer colocar e refletir sobre ela. É inimaginável tudo o que já se viveu num espaço como a Faculdade de Belas-Artes e a EADCN, no “meu tempo” apenas EDCN. Tudo está tão distante, mas ao mesmo tempo tão próximo tendo em conta esta noção de continuidade temporal. Desses tempos “distantes” restam as marcas físicas, como estes dois edifícios, e, na realidade, tudo aquilo que o ser humano foi capaz de criar e que permanece nesta linha do tempo. Talvez por este motivo a Arte seja tão importante, pela marca humana mais pura que representa. A Arte é a única criação humana sem uma utilidade propriamente dita, não é essencial. É o ato de criar por criar. E é o ato de contemplar por contemplar à margem de qualquer tempo.


Margarida Bolsa, nº 12714

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