Contraste dos Tempos

 

Há meses que o meu prédio está em obras, acordo incomodada porque o barulho das mesmas não me deixa dormir. Na hora de almoço na capital as obras calam-se e eu consigo ouvir-me a pensar novamente. Só assim valorizo o silêncio e a paz do Alentejo, lugar onde sempre vivi.

No outro dia, à mesa, perguntei ao meu avô se ele já alguma vez caçara, visto que era do que se falava naquele momento. Ele responde «cacei seres humanos». Calei-me.

Hoje em Lisboa, quando ouço o ruído das obras, calo-me e agradeço por viver num tempo e num país em que o que se ouve ao acordar são betoneiras e martelos pneumáticos e não tiros e bombas.

 Ao nos relacionarmos com as pequenas coisas do mundo aprendemos mais sobre o mesmo. Agora basta-nos abrir a torneira para ter água. Basta um telefonema para dizer que temos saudades de alguém. Se tivermos fome basta aos estafetas ligar. 

O contraste dos tempos, torna mais evidente os signos culturais.

A cultura é uma membrana que nos rodeia, vemos a natureza, as pessoas, e as coisas de uma forma diferente à medida que o tempo passa.

“The Trial of the Chicago 7”, resistência e incorporação

  Um dos mecanismos de auto manutenção do capitalismo tardio é a incorporação cultural . Esta consiste na capacidade da ideologia predominan...