A alienação
como foi descrita por Marx, experienciada pelos trabalhadores no sistema capitalista
que organiza a maioria dos países do Ocidente desde a Revolução Industrial, planta
as suas sementes muito antes de alguma vez entrarmos em contacto direto com o
mercado de trabalho.
Desde cedo, as crianças são confrontadas com o facto que os seus progenitores têm que trabalhar, passando longas horas longe delas em sítios que os desgastam e cansam. Com a dissolução, aos poucos, da ideia patriarcal de que a mãe deve ficar em casa a cuidar dos filhos e que o pai deve trabalhar o suficiente para sustentar toda a família (para além da crescente impossibilidade de sustentar uma casa com apenas uma fonte de rendimento), as crianças são postas em número cada vez maior nas creches ou ATLs para passar o tempo de forma a permitir que os pais tenham o tempo necessário para ganhar o dinheiro que precisam para os sustentar.
Muitas vezes mesmo no tempo reservado à interação com os filhos e ao descanso, os pais estão ainda absorvidos pelo seu trabalho e pelas preocupações económicas do dia a dia, mentalmente e por vezes até fisicamente distantes. Os pais simplesmente não têm energia para viver a vida fora do emprego, dão quase tudo ao seu trabalho.
A partir do momento em que observamos
e interiorizamos estes comportamentos, com a pergunta “O que queres ser quando fores
grande?” a ser repetida incessantemente pelos adultos que nos rodeiam, começamos desde muito novos a ser condicionados à ideia de que o nosso valor como pessoa vai
estar colado à nossa ocupação profissional.
Quando estas crianças entram no sistema educativo, passam a experienciar por elas próprias formas de alienação semelhantes às de um emprego. O interesse do sistema escolar deixa rapidamente de ser a aprendizagem de conteúdos importantes para a formação de um indivíduo, mas sim a uniformização dos comportamentos, a memorização de informações fúteis, a avaliação competitiva do desempenho e, no fundo, a preparação para o mercado de trabalho. Os seus tempos livres deixam de ser passados a brincar, mas sim a memorizar matéria e em stress porque têm que passar num teste. São pressionados na adolescência a optar por caminhos de estudo que acreditam que vão definir o sucesso do seu futuro, e sentem-se muitas vezes forçados a ingressar no ensino superior não porque realmente o desejam, mas sim com a crença de que não conseguirão um bom emprego se não forem licenciados.
Cria-se então este ciclo que é difícil de quebrar porque é causado pelo sistema em que estamos organizados. É cada vez mais difícil e indesejável ter um filho nestas condições, o que se reflete nas taxas de natalidade dos países considerados "desenvolvidos".