Hoje, na reprografia da faculdade, ouvi uma conversa entre um grupo de alunas de design de comunicação, na qual me pareceu acontecer uma análise ao detalhe do comportamento das personagens de uma série americana, que na altura não consegui identificar. Depois, descobri que o assunto se tratava realmente de um debate sobre os “Incel”, uma comunidade masculina, originária dos Estados Unidos, que pratica o celibato involuntário, afirmando que, a não ser que se encontre “severamente deformada”, uma mulher consegue fazer sexo com qualquer homem.
Os Incel categorizam a mulher por estereótipos de beleza. Pondo em perspectiva apenas aquilo que elas, como figura, representam para eles.
Sendo assim, existem apenas Becky e Stacy. A primeira é a “ordinária”, que usa roupa larga para esconder os seus pequenos seios e traseiro, não gastando mais do que 5$ em roupa. A segunda é a que possui curvas naturais, cabelo loiro, usa maquilhagem, vive na luxuria, tem grandes seios e traseiro e é capaz de dar aos homens uma ereção instantânea. Stacy também é a namorada de Chad, o homem musculado e popular que presumidamente tem muitas amantes. As mulheres no geral, são também vulgarmente referidas por eles como “Femoides” ou “Organismo Humano Feminino”. Esta é, portanto, uma comunidade assumidamente misógina.
Os Incel vivem à procura de Stacys. Vêm-nas como seres sagrados e intocáveis. Consideram então que as Beckys lhes devem a eles devoção sexual.
Apelam também ao que eles chamam de “marxismo sexual”. Um sistema em que cada homem estaria de uma certa forma conectado a uma mulher de um mesmo nível de beleza e económico. Relacionam a sua filosofia com um problema matemático, vendo a mulher como um número.
Mas enfim, não foi até ao verão de 2018, momento em que um homem desta comunidade atropelou dez mulheres com uma carrinha numa rua central de Toronto, que esta realidade criou controvérsia…
Por alguma razão, esta conversa entre as minhas colegas lembrou-me o momento em que numa das nossas aulas se falou da segmentação social como estratégia na venda de cereais. Talvez pela caracterização de elementos visuais como definitórios de algo? Ou pelo jogo manipulação-manipulado que ambas as situações representam?
E agora pergunto-me, onde e quando é que isto vai parar?