“The Trial of the Chicago 7”, resistência e incorporação

 Um dos mecanismos de auto manutenção do capitalismo tardio é a incorporação cultural. Esta consiste na capacidade da ideologia predominante em incorporar símbolos culturais de resistência ideológica, sejam estes filmes, livros, movimentos ou até figuras históricas. Durante este processo, a crítica ao capitalismo presente na resistência é branqueada, domesticada e mercantilizada.

Um dos exemplos mais notórios de incorporação é o movimento hippie, que surgiu nos Estados Unidos como um movimento juvenil nos anos 60. Apesar de ser um movimento bastante abrangente, valores como antimilitarismo, ambientalismo, liberdade artística e emancipação sexual estavam presentes em quase todos os seus apoiantes. Esta subcultura atingiu o seu apogeu nos protestos contra o envolvimento militar dos EUA no Vietname.

O filme referido no título trata-se, precisamente, de um caso de tribunal que aconteceu em Chicago, em 1968, que envolvia 7 arguidos - Abbie Hoffman, Jerry Rubin, David Dellinger, Tom Hayden, Rennie Davis, John Froines e Lee Weiner.
Estes 7 indivíduos foram acusados pelo governo federal americano de conspiração e incitação à violência face ao seu envolvimento em protestos contra a guerra do Vietname.
Uma das figuras centrais no caso, Abbie Hoffman, foi ativista político e fundador do Partido Internacional da Juventude (Youth International Party ou, mais comumente, yippies). Anarquista convicto, defendia a abolição do estado a qualquer custo e dos seus aparelhos ideológicos. Foi uma figura relevante na resistência anticapitalista do movimento hippie.
Isto parece não ser o caso no filme de Aaron Sorkin. O referido ativista é apresentado no filme como alguém descontente não com o status quo em si, mas sim com as pessoas em cargo do sistema. É desta maneira que a atenção é desviada do capitalismo e voltada para os indivíduos. A crítica anticapitalista do verdadeiro Abbie Hoffman perde-se no caminho, é branqueada e incorporada na cultura capitalista.

Uma das falas finais de Abbie Hoffman ilustra perfeitamente o mecanismo aqui em jogo: “I think the institutions of our democracy are wonderful things, that right now are populated by some terrible people". 
A resistência é assimilada e, consequentemente, fortalece a ideologia predominante. Ao voltarmos as nossas atenções para os indivíduos no poder esquecemos a raiz do mal - o poder em si.



Cinema, arte e a máquina dos blockbusters

     Nos últimos dois anos, a indústria do cinema sofreu profundamente, como é sabido, no entanto, no final deste ano de 2021 alguma vida voltou a pulsar nas salas de cinema, com o lançamento do mais recente capítulo do universo cinemático Marvel: Spiderman: No Way Home, que já conta com mais de um milhar de milhão de dólares arrecadados em bilheteiras por todo o mundo.

    Trata-se de mais uma prova da preferência deste tipo de filmes pelas massas e a supremacia dos filmes de super-heróis na indústria, uma tendência que veio transformar os métodos das grandes produtoras de Hollywood, que centraram a produção dos seus blolckbusters neste género e, de facto, resulta, pois, por exemplo, no caso da Marvel, dez dos seus filmes ultrapassaram esta marca do milhar de milhão em bilheteira nos últimos dez anos. No entanto, o que causa exatamente este sucesso, e o que significa para a indústria cinematográfica? 

    Não posso excluir-me da multidão que aprecia estes filmes, visto que também fui ao cinema quase dois anos desde a última vez para ver este mesmo filme, e saí satisfeito, como toda a audiência, no geral. Porém, estes produtos que conseguem produzir lucros imensos seguem um padrão formulaico, algo apontado até por grandes nomes do cinema, Martin Scorsese catalogou-os como uma ida ao parque de diversões e de não serem verdadeiro cinema, Ridley Scott apontou para guiões narrativos aborrecidos e pouco ousados. São filmes que antes da arte, são um produto que almeja maximizar o lucro e deixar o palco pronto para o próximo, e isto reflete-se no cinema atual, uma indústria onde a visão artística é sufocada em proveito do lucro que este tipo de filmes trazem. 

    Uma obra-prima cinemática fica na memória pela sua estética, passam de geração em geração, a sua mensagem, valores, personagens deixam uma marca duradoura, essencialmente. São experiências intemporais para serem apreciadas e reapreciadas, e estas produções, no entanto, refletem toda uma atitude perante o quotidiano, de experiências imediatas e descartáveis, para um público impaciente que exige recompensa e satisfação momentânea, o espelho da atualidade em que informação é acessível e, no entanto, apenas se rodeia por aquela que satisfaz a opinião individual de cada um, uma realidade onde o debate de valores e ideologias encontra-se quase impossível de se concretizar sem ser reduzido a um amontoado de insultos, ou seja, apresentar algo por definição "diferente", que apanhe o estipulado de surpresa é uma jogada arriscada que, quando envolve dinheiro, torna-se impensável, e no cinema, na sua arte, que procura explorar os seus limites e confrontar o público através dos seus atores, técnicas de filmagem, narrativas. Basicamente, a arte do cinema tornou-se inviável, mas o negócio do cinema está vivo e de boa saúde, uma máquina bem oleada que produz e lucra quase sem margem margem de erro, sem risco.            

     

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Cameras obscuras contemporâneas (parte 2)

Aterra na Amadora, uma das cidades mais multiculturais do país, para viver, e trabalha em Lisboa, onde é exposto ao pior que a sociedade lisbonense tem para oferecer. Todos os seus preconceitos ensinados na terra natal, solidificam-se na paisagem de bêbados e drogados do Bairro Alto, nos bairros sociais, e nos bairros de lata visíveis de nossa casa, e onde a maior parte da população é de origem africana, como grande percentagem da Amadora. Cujos prazeres da vida, e acredito ser uma forma de se abstrair do que é ser um corpo racializado em Portugal, são as festa com música alta que afirmam a sua posição num lugar que não os quer e maltrata, o que infelizmente não deixa uma praceta inteira dormir, incluindo o meu pai.

Ele que faz gratificados todas as semanas durante a noite, às vezes dias seguidos por falta de pessoal, tendo de se levantar na mesma no dia seguinte para ir trabalhar na esquadra, onde convive com colegas igualmente cansados, e com as mesmas experiências que ele. Esta camera obscura não está só invertida, a imagem começa cada vez mais a diminuir de tamanho. 

Acompanhado de anos de serviço, traumatismo craniano, luto e perda de membros seniores da família, vinho a todas as refeições, e uma de ausência de anos do consultório do médico, torna-se claro que esta consciência do meu pai está diminuir de tamanho e a afastar-se cada vez mais da visão dos outros. 

Isto deixa-me dividida em quem devo meter a culpabilidade. Será na escolha profissional dele, por mais incompetente que ele fosse, que propocionou-lhe estabilidade económica e possibilidade de dinheiro extra para dar uma vida confortável aos filhos, ou a instituição e sistema que permitiu que ele e outros se tornassem polícias mesmo não sendo as pessoas mais empáticas e compreendidas da fábrica social. 

E todos eles que são expostos ao pior lado da vida, sem nenhum tipo de apoio psicológico, sem a obrigação de check-ups médicos para continuar o serviço, sem as horas de sono necessárias, tornam-se assim as máquinas de opressão perfeitas para oprimir os já oprimidos, para controlar e exercer violentamente a autoridade sem que haja uma pinga de dúvida nestes agentes se que o que estão a fazer é errado. Toda a possibilidade para uma multivisão da realidade é aniquilada gradualmente com os anos.

Daí a importância para a fomentação da observação da multiplicidade desde crianças. Precisamos usar a nossa criatividade para inverter o afunilamento da consciência consequente da era das redes sociais, e assim arranjar maneira de as usar em a nosso favor e da democracia.

Solo

 Na união Europeia, 7.7 por cento das mulheres com idades entre os 25 e os 49 anos vivem sozinhas com os filhos. Na mesma faixa etária, apenas 1.1 por cento dos homens vivem em regime monoparental. Há, portanto, na União Europeia sete vezes mais mulheres em regime monoparental do que homens. Talvez seja por essa razão que a expressão pai solteiro não se encontre sequer no léxico social.

No primeiro ano de faculdade fotografei, para um projeto intitulado de "Solo", mulheres, que, sozinhas, cuidam dos seus filhos. Pois são situações que acompanho de perto, infelizmente. O projeto pretende alertar para esta realidade, retratando mulheres que são "mães e pais ao mesmo tempo", devido a variadas circunstâncias, mas na maior parte dos casos, por ausência de responsabilidade do pai. 

Em aula falámos no estudo dos signos, e que o conceito do pai é cultural e a relação com a mãe é natural.

Pena que não haja uma evolução social para que a responsabilidade de educar um ser seja partilhada de igual forma. Existe, uma ausência de figura paternal em muitas famílias portuguesas, devido à forte presença do machismo na nossa sociedade.

Baby Burlesks e a imagem sexualizada da criança

 

A cultura visual tem influência sobre o nosso conceito de sexualidade e tem o poder de, através da sua representação, normalizar certos aspetos da mesma.

Lembro-me de ver reposts de stills do filme Lolita de Adrian Lyne no Tumblr, nos primórdios do meu uso de internet, e achar muito estranha a romantização de algo que me parecia apenas imoral. No entanto, anos depois, foi-me oferecido o livro — e talvez por não conter imagens tão nitidamente criminosas ou por ser abafado pela perspetiva do autor do crime, não foi tão chocante. 

A digestão destas temáticas ao longo do tempo é intencional. Os valores da sociedade mudam e a representação das narrativas muda a seu lado, mas a mensagem é passada do mesmo modo.

Em 1932, a atriz Shirley Temple contracenou com outras crianças numa série de oito curtas chamadas Baby Burlesks produzidas por Jack Hayes e dirigidas por Charles Lamont. As curtas proclamavam ser uma paródia de filmes conhecidos, utilizando como ferramenta humorística as crianças no lugar de adultos. O estatuto de criança era ainda enfatizado pelo uso de fraldas com alfinetes-de-ama desproporcionais e trocadilhos de nomes de personagens que remetiam à palavra "fralda". Em Glad Rags to Riches onde Temple faz a personagem La Bella Diaperina, uma cantora de cabaret, que tem de escolher entre um homem rico ou um homem do campo para seu parceiro.



Shirley Temple como La Bella Diaperina e o slogan "A que apimenta o programa" em Glad Rags to Riches, 1932

O problema destas curtas centra-se na sexualização da criança. Ao longo destes oito filmes vemos Temple no papel de prostituta, cantora de cabaret, e dançarina que seduz soldados. 

A exploração da inocência infantil da atriz é prevalente no sucessos de bilheteira que, apoiado pelo crítico Graham Greene, atraíam mais homens de meia idade do que qualquer outra fatia demográfica aos cinemas. Após a publicação desta review, o autor foi processado pela 20th Century Fox e perdeu o caso.

“The owners of a child star are like leaseholders — their property diminishes in value every year. Miss Shirley Temple’s case, though, has peculiar interest: infancy with her is a disguise, her appeal is more secret and more adult. Adult emotions of love and grief glissade across the mask of childhood, a childhood skin-deep. It is clever but it cannot last.

Her admirers — middle aged men and clergymen — respond to her dubious coquetry, to the sight of her well-shaped and desirable little body, packed with enormous vitality, only because the safety curtain of story and dialogue drops between their intelligence and their desire.”

Graham Greene, “Wee Willie Winkie” review for the magazine Night and Day, 1937


O descartar destas situações como algo do passado é cortar o diálogo que nos permite entender como elas vieram a suceder e a oportunidade de moldar a imagem futura. A ideia de que esta aparente pedofilia era aceite sem críticas na época é provada errada pela presença de comentários como os de Graham Greene e Gilbert Sedes, que comparou o papel de Shirley como atriz ao de Mae West - um sex symbol contemporâneo à crítica- e sugeriu o estatuto criminoso dos diretores. 


Conseguimos imaginar este tipo de representações e temáticas no mundo atual? A transição nos nossos valores ocidentais e a cultura do politicamente correto parece ter erradicado o passe-livre para a exploração da figura feminina infantil. Contudo, quando vi as danças e imagens promocionais dos primeiros filmes de Shirley Temple, não pude deixar de reparar nas semelhanças com o programa da TLC Toddlers and Tiaras que retrata a vida de crianças participantes em concursos de beleza. O programa teve um sucesso incrível com cerca de 1.6 milhões de espetadores por semana e esteve no ar entre 2009 e 2013. Várias críticas à moralidade do programa foram postas no radar da TLC mas apenas no último ano do programa, aliadas a um menor número de audiências, foram suficiente para cancelar o programa. A imagem trabalhada, com elementos alusivos a adultos - maquilhagem, saltos altos,  roupa reveladora - e o comportamento que tenta balançar a inocência da idade com uma clara expressão de sexualidade com adultos como o público são pontos em comum com uma realidade que, pelo recolhido, não nos está tão longínqua assim.



à esquerda: criança de 3 anos vestida de Julia Roberts em Pretty Woman, uma prostituta;
à direita: criança de 6 anos vestida de Dolly Parton, usando implantes falsos de peito, Toddlers and Tiaras, 2011


Será Arte?

 las experiencias inmersivas de Van Gogh son experiencias multisensorial temáticas basadas en la vida y las pinturas del artista. Estas experiencias multimedia no cuentan con ninguna obra de arte original, utilizan solo imágenes o videos inspirados en las obras de Van Gogh que después son proyectados en paredes, techos, pisos, vendida como una instalación multimedia acompañadas de narraciones, música, animaciones, e incluso fragancias. 

Estas exposiciones poco tradicionales y originales atraen por su actividad sensorial y por popularidad, no hay seriedad o silencios que necesitan ser guardados es un parque de diversiones con fotos de obras de Van Gogh, y este es el punto de la exposición que el espectador se acerque lo más que pueda a ser parte de la exposición, a que ellos documenten su experiencia única y personal de este evento. 


Estamos creando una nueva manera de interactuar con el arte con las redes sociales y dispositivos electrónicos hay un nuevo modelo de atención inmersiva, este nuevo mirar a través de una pantalla todo lo que nos acontece y les acontece a los otros ha hecho que hoy en día cambiemos la manera de ver y experimentar el mundo. Ya no hay arte que no esté orientada de alguna manera digitalmente, y esto no solo pasa en esta exposición de Van Gogh también acontece cuando vemos una pintura como la Mona lisa, lo primero que vemos es la congregación de personas y los teléfonos para tomar foto, casi como si fuera una prueba de que la vieron y necesitan gravar ese recuerdo.  


 El éxito comercial de las empresas realmente depende de inspirar el comportamiento del consumidor para que  vengan a estas exposiciones armada con sus teléfonos, los visitantes se conviertan en micro influenciadores de estos espectáculos pero acabas por salir de esta exposición sin tener ningún conocimiento de las obras de Van Gogh porque al final tuviste dos horas para hacer tu propio show en tu teléfono y en las redes sociales y cuando te preguntan hay visto una obra de van Gogh dices no pero fui a una exposición inmersiva. Lo que para significa que fuiste, pero al final no ganas nada, nada más que algunas fotos que serán lindas para publicar en tus redes sociales y sentirte mejor contigo mismo. 

 Al final estas compañías no les interesa que las personas aprendan, solo les interesa hacer negocio con las pinturas y el trabajo de un artista como Van Gogh, me atrevería a decir que si supiese esto Van Gogh se cortaría la otra oreja.  

  



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“I am” ou o direito a ser e a estar representado

Revejo Descartes das Meditações, seminu sobre a cama, a acordar de um pesadelo. Tinha posto em causa tudo o que lhe fora ensinado pelos seus mestres, porque já o tinham enganado, o que os sentidos lhe davam, porque também poderiam levar ao erro e, por fim, pôs em causa a sua própria existência, uma vez que certos sonhos lhe pareciam tão reais que a vida que estava a viver poderia não passar de um sonho. Um sonho induzido por uma entidade maléfica e enganadora. É neste pesadelo sem pé que Descartes deduz a sua existência, se consigo imaginar uma entidade maléfica e enganadora, é porque sou, existo.

Salto mais de três séculos e navego na Netflix, vejo um filme/documentário sobre transexuais em Hollywood, que veem agora representada a sua existência. O assunto interessa-me desde a adolescência primeiro como objeto de curiosidade, depois como objecto de estudo e agora simplesmente por interesse humano. Lembro-me de uma criança no final da década de 70 ou início dos anos 80, que se vestia e usava o cabelo de um modo diferente ao esperado e idealizado para o seu sexo. Recordo que os meus irmãos mais novos brincavam com essa criança com toda a naturalidade, mas que eu estranhava a não conformidade, imbuída no espírito da ideologia vigente. Lembro-me do seu olhar triste e doce, e de que quando falava parecia ter outra idade. Não recordo ao certo se inquiri a criança ou os seus pais, o pequeno ser de 6 a 8 anos ter-me-á dito directa ou indirectamente que não gostava dos seus genitais.  Pensei que eu também não gostaria de acordar um dia e ter órgãos genitais masculinos e, criança-adolescente que era, imaginei quão incomodativo seria andar ou sentar-me com um apêndice entre as pernas. Ficámos amigos. Um par de anos mais tarde regressei a Lisboa e perdi-lhe o rasto.

Volto ao documentário da Netflix verifico nas entrevistas do documentário que era quase universal o sentimento de estranheza que os transexuais sentiam na infância e adolescência, uma estranheza em relação a si mesmos, que imputam à ausência de representação. Primeiro foram invisíveis à cultura visual, como se não existissem, depois foram motivo cómico-trágico e só recentemente são representados como pessoas de pleno direito.

Beleza e Estereótipos

 A beleza sempre foi algo subjetivo. Todo ser humano sente-se atraído pelo belo, pois desperta-nos uma sensação de admiração no nosso olhar. Ao belo, associamos aspetos positivos; temos o hábito de associar inteligência, gentileza, educação, e até riqueza a pessoas com feições “atraentes”. No entanto, nunca existiu uma só definição de “belo”. No decorrer de séculos e de culturas diferentes, a definição de “belo” tem mudado, estando sempre numa constante evolução, por vezes até mudando drasticamente em apenas décadas, mediante da influência de acontecimentos históricos, às vezes causadores de extremas mudanças culturais.

O colonialismo moderno, espalhou durante séculos a ideia do europeu, do branco ser “superior” às outras raças. Esta ideia de superioridade manifestava-se de diversas formas no poder que exercitava sobre os opressos, incluindo na sua própria aparência, na cor da sua pele. Aspetos como cabelos lisos e pele clara são padrões de beleza eurocêntricos que ainda podem ser vistos hoje a serem praticados, sobretudo em países com um passado colonial. O chamado skinbleaching é ainda lamentavelmente popular em países onde a grande maioria da população é negra, ou de pele escura, tais como na Índia e na Nigéria. Em imensos países do sudoeste asiático, tais como as Filipinas, existe o estereótipo de que as pessoas com pele mais escura trabalham no exterior, estando por si associadas com trabalhos praticados pela classe baixa, tais como agricultura, e as pessoas com a pele mais clara no interior, como empresas e bancos, então associadas a trabalhos de classe alta.

O fato de alguém querer clarear a sua pele para ganhar um maior estatuto social, para conseguir ser aceite na sociedade, revela que um indivíduo com pele escura carrega consigo uma conotação negativa. Pobreza e “sujidade” são alguns dos aspetos associados com pele escura em imensas culturas. Esta crença leva-me a acreditar que existe uma falsa consciência proeminente de que possuir pele escura é visto como não atraente, como feio, “sujo”, e desprivilegiado. Exceto que, atualmente, não são mais os colonizadores, mas sim as indústrias de cosméticos, através de propagandas incessantes, e até nós mesmos, integrantes da sociedade, que continuam a puxar esta ideologia, tomando-a já por hábito como algo “normal”. Tristemente, muitos destes estereótipos e hábitos, começam a ser-nos implantados desde que nascemos; práticas passadas entre gerações, especificamente, de mãe para filha, visto que as mulheres também são as mais pressionadas a seguir uma certa “imagem”, e a ênfase na aparência, e não no carácter que a sociedade coloca na mulher.

Numa sociedade em que priveligia socialmente aqueles com pele clara, quebrar estes hábitos e estereótipos teria que começar por uma rejeição progressiva dos mesmos. Ao crescer, tive também o constante hábito de alisar o meu cabelo, mas foi somente à poucos anos que decidi finalmente abraçar a minha afro. Embora talvez soe um pouco “sentimentalista”, acredito que seja através do amor próprio, e de pequenas mudanças como uma maior inclusão em espaços como o entertenimento, que estas ideias possam começar progressivamente a extinguir-se do nosso meio.

Preconceito


É um facto que vivemos e sempre tivemos preconceitos enraizados dentro de nós, sejam esses incutidos e transmitidos para nós desde crianças pelos nossos país ou circulo familiar, ou pelo ambiente social em que crescemos. No entanto, o que nunca nos ocorre é questionarmos o porque de sem nos apercebermos termos preconceitos para enumeras coisas, pessoas, ações ou espaços.

Quando era mais novo, tinha um amigo (cujos país eram de etnia asiática) que via anime. Para quem não sabe anime é o nome que se dá a series animadas, ou de desenhos animados produzidos no Japão. Ora como nós já tinha-mos passado a idade dos desenhos animados, eu e outros colegas dizíamos cenas como "porque é que gostas disso? isso é para crianças", "como é que gostas de ver bonecos a história nem faz sentido" entre outros comentários. Um dia ele recomenda-me um anime curto para ver e eu decidi dar uma hipótese. Inicialmente achei aquilo ridículo, mas porque estava a ver não para gostar mas sim para achar defeitos a apontar, já ia com a mente formatada para não gostar da série. Não obstante, passado um bocado comecei genuinamente a sentir me apegado e viciado. A estranheza inicial pelo bonecos passou a indiferença e por sua vez a interesse, a ideia da história "sem nexo" que eu tinha criado na minha cabeça (sabe-se lá porquê) começou a ser cativante e a parti daí cedi e admiti que gostei. 

Hoje em dia maior parte das series que vejo são anime, e quando digo isto a alguém a reação da pessoa é semelhante há que eu tinha antigamente. Percebi que este preconceito é puramente originado por uma sociedade ocidental, onde vimos "desenhos animados" como algo infantil, que quando crescemos deixamos de gostar, a verdade é que todos nós em tempos vimos e gostámos. Nos países asiáticos, anime faz parte da cultura, com um peso talvez superior aquilo a que nós cá chamamos de "series" ou filmes. O pior é que atrás de cada preconceito vem sempre a aceitação ou a tentativa de perceber e de compreender a sua origem, assumimos que assim o é porque toda a gente a nossa volta acha o mesmo. Uma ideia que não é nossa esta enraizada em nós e não nos permite realmente descobrir qual é o nosso verdadeiro interesse, nem nos deixa formular a nossa própria ideia sobre algo.

Segundo Fiske, parece que adquirimos uma "falsa consciência" proveniente das ideia socio-culturais, e da ideologia criada não por nós mesmos, mas pelas classes dominantes. Fiske utiliza estes termos mais no contexto económico, no entanto acredito que são bons exemplos para representar a origem dos "nossos" preconceitos.

Será o altruísmo uma contradição?

Uma discussão de um vídeo que assisti recentemente declarou, com grande confiança que o altruísmo é impossível, sendo o argumento de que um ato de bondade é, no mínimo, motivado por fazer a própria pessoa se sentir melhor com isso.

Isso pressupõe que as pessoas ficam satisfeitas com os seus atos de bondade, mas essa é uma questão diferente. Trata-se do próprio termo. A noção de que não podemos ser gentis sem esperar uma recompensa não me agradou totalmente, então comecei a pensar mais a respeito. Se fazer boas ações faz-nos sentir bem e força-nos a fazer mais bem, estamos então a fazer isso pelos nossos próprios sentimentos ou pelo bem real?

É quase desnecessário dizer que é verdade que recebemos algum benefício por praticar atos de bondade, mas isso não é uma explicação para o altruísmo. A resposta óbvia é empatia. Compartilhamos o prazer dos benefícios recebidos pela pessoa que ajudamos. Em vez de definir um ato gentil ou altruísta de tal forma que não possa ser acompanhado por um bom sentimento na pessoa que realiza o ato, poderia ser mais bem definido como um ato cuja motivação, ou razão, não fosse bom, embora sentir se bem possa ser um efeito colateral acidental, e mesmo que a pessoa soubesse que ela se sentiria bem realizando o ato. Não foi o "porquê", não foi o motivo que o fizeram.

Se eu doar 500 € para a caridade, posso sentir-me bem. Se eu gastasse aqueles 500 € em alguma atividade que gostasse, poderia sentir-me melhor do que se tivesse gasto o dinheiro em instituições de caridade. É claro que me sentir bem não foi o motivo pelo qual dei o dinheiro para a caridade (já que se tivesse sido esse o meu motivador, eu teria gasto na outra atividade), apesar de ser uma consequência do ato gentil. Pode não ser um dos motivos pelos quais dei o dinheiro para instituições de caridade. Por exemplo, posso ter algumas crenças éticas que, quando tomadas em conjunto, implicam que devo doar 500 € para instituições de caridade, e assim o faço, e em nenhum lugar entre essas crenças há menção de que me sinto bem.

Portanto, mesmo que todos os atos altruístas fossem acompanhados de bons sentimentos nas pessoas que os praticam, ainda assim não entraria em conflito com essa definição. Acredito que a pergunta que teríamos de procurar explicar primeiro seria porque é que sentimos prazer em ser úteis e ajudar os outros.

Sofá novo

Eu vivo com a minha mãe e com o meu padrasto e trocámos de sofá recentemente. Antes não usávamos a sala e cada um ia para o seu quarto ou cozinha, agora, a sala passou a ser mais frequentada e eu sinto que também devo estar lá. 

A minha mãe nasceu em 1961, viveu no campo até ser adulta, casada, ter filhos e mais um bocadinho. Pelo que sei, o tempo que não se passava a trabalhar, passava-se em família. Não haviam tantos estímulos naquele tempo ou requeriam mais esforço. Os meus irmãos têm mais 13 e 14 anos do que eu, é uma grande diferença de idade entre irmãos mas em tempo de civilização não é assim tanto, eles ainda passavam tempo com a nossa família.

Com o sofá novo e a minha família toda lá, eu sinto uma obrigação e um desejo de estar com eles, passar um serão todos juntos. Quando estou sentado, no momento de família, em que se deve aproveitar, apercebo-me que não gosto de nada do que se vê na televisão, temos gostos diferentes em programas e filmes e ao mesmo tempo tenho uma sensação estranha de que estou a perder tempo. No meu quarto tenho o computador e todos os meus interesses.

Existe uma expressão que é fomo (fear of missing out), talvez seja uma adaptação disso, eu acho que estou a perder tempo porque no meu quarto tenho toda a informação disponível que posso vir a querer saber, sei que tenho uma lista de vídeos, séries e filmes à minha espera, e a sensação estende-se a mensagens com amigos que estou a perder, se não participar, não aumento o valor da nossa relação, não crio momentos. Lembro-me de uma entrevista ao comediante americano, Bo Burnham, que tinha este sentido, ele, em criança, estava com os amigos e divertia-se, quando diziam adeus, iam para casa e ficava por ali, em casa ele estava sozinho e fazia as coisas dele normalmente, hoje em dia, as crianças fazem o mesmo até chegar a casa, a partir daí, estão sozinhas mas sentem solidão se não falarem com os amigos. Há uma noção de que tudo continua a acontecer fora de casa, nos eventos em que não estamos, estamos mais ligados uns aos outros. É o caso que foi discutido em aula, se eu não estiver a olhar para algo, esse algo existe ou aparece só quando eu possibilito a sua existência na minha mente? Parece que se aplica aos tempos de há uns tempos, as pessoas esqueciam mais, ou melhor, viviam o momento em que estavam inseridas.

Todas as ligações que nos são possibilitadas hoje em dia parecem afastar-nos das pessoas com quem estamos na realidade, eu não estou com a minha família, eu estou com todas as pessoas que não vivem comigo, eu quero toda a informação e conteúdo para sentir que não fico para trás porque vivemos numa sociedade em que acontecem muitas coisas, muito rápido e temos de saber tudo (sociedade de informação). A tecnologia é uma genialidade dos humanos, os sistemas de comunicação são incríveis e a qualquer momento aprendo mais uma coisa mas ainda não sei como foi o dia da minha família.

Segmentação na Sociedade

 

A segmentação está presente no nosso dia a dia, é uma “arma” poderosa que funciona como um mecanismo para reforçar as diferenças. A separação entre os sexos masculinos e femininos é um dos casos mais comuns de segmentação que existe na sociedade.

As grandes superfícies comerciais utilizam a segmentação a seu favor com intuito de aumentar as suas margens de lucro. Esta segmentação serve apenas para satisfazer os consumidores, um dos exemplos mais frequentes é a época de regresso as aulas. Numa ida a um hipermercado durante esse período é provável que haja corredores distintos que separam os modelos de mochilas para raparigas (com figuras da Frozen, Barbie, etc.) das mochilas dos rapazes (com figuras do Spider-Man, Batman, etc.). A probabilidade de um rapaz comprar uma mochila da Minnie, ou uma rapariga comprar uma mochila do Capitão América, é baixa.

Com isto podemos concluir que a segmentação fortalece as diferenças, estas são reforçadas pelos atos humanos.

O valor das coisas

Quando encomendo uma peça de roupa, de um certo modelo, de uma empresa multinacional, não me interessa escolher entre as peças produzidas, porque as suas características e preços são iguais. Ao usá-la (em viagens por exemplo) posso associá-la a acontecimentos e por isso atribuo-lhe um valor sentimental. Assim essa peça passa de ser substituível (fungible) para única (non-fungible).

Uma obra de arte digital é também única e existem várias formas de a comercializar. Uma delas é vendê-la como um NFT (Non-fungible token) por uma blockchain, que guarda a transação publicamente na internet. Uma das perguntas mais frequentes sobre este assunto é a seguinte: Porque é que alguém compraria um NFT se essa arte é digital e a sua visualização é acessível por toda a gente? A razão é para apoiar financeiramente artistas que gostamos.

Esta forma de vender tokens digitais foi rapidamente transformada numa forma das grandes empresas lucrarem. A NBA (National Basketball Association) aproveitou-se logo deste mercado digital, editando clipes de jogos (NBA Top Shot Moments) como tokens destinados a fãs colecionadores. Por exemplo, um clipe do LeBron James numa transmissão de um jogo de basquetebol foi vendido por mais de $200,000 pela NBA Top Shot. Neste negócio os compradores não obtêm os direitos de transmissão do vídeo, só o certificado público de proprietário de uma arte digital única.

Este mercado de colecionáveis digitais da NBA mostra uma indústria cultural perigosa, que realça a falsa necessidade que as pessoas dão aos produtos do capitalismo.

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Natal

    Com o Natal chega um estilo de vida que atinge uma grande parte da população. Não, não estou a falar das grandes superfícies terem de passar as músicas da Mariah Carey a cada 10 minutos; estou a falar do consumismo da população nesta época. Muitas mercadorias que são compradas não têm muito valor de uso, em si, mas são compradas na mesma. Porquê? talvez para os consumidores terem algum senso de realização de que trabalharam muito para poderem comprar esse artigo.

    Nesta época vemos mais anúncios, de várias marcas a promover diversos produtos, alguns deles iguais ou que servem o mesmo propósito, e outros completamente diferentes. Mas qual deles é o melhor? São dadas tantas escolhas que as pessoas nem conseguem pensar bem. Muitas vezes as pessoas acabam por comprar certos produtos só porque eles apareceram num anúncio e nem tentam procurar por outras opções. Espírito natalício. É o que os anúncios desses produtos pretendem mostrar. Estes são os produtos que mostram mais espírito natalício. Não interessa se já é um produto mais antigo, ou não tão eficiente como outros. Simplesmente esse confere mais espírito natalício que os outros.


Influência da tecnologia na indústria da música

Já tive alguns debates sobre este tópico com amigos e familiares e visto que música é algo que para mim é muito importante decidi explorar este tema aqui também.
Como já referi no post anterior, hoje em dia tudo é mais rápido e automático devido ao desenvolvimento da tecnologia e a nossa imersão no mundo virtual com as redes sociais, etc... e já que "Art imitates life, life imitates art", é óbvio que esta evidência tem consequências na arte e na forma como esta se apresenta.
Temos, por exemplo, a aplicação TikTok que se tornou um dos principais meios para promover artistas e temas, com pequenos clipes das músicas que foram criados especificamente para serem acompanhados por conteúdo visual na aplicação que pode ser, por exemplo, uma dança ou um meme. 
Estas táticas têm vindo a funcionar perfeitamente tanto que muitas das músicas que estiveram nas posições mais altas na Billboard foram fenómenos na aplicação.
Os ouvintes hoje em dia preferem algo rápido, que fique no ouvido e possa ser consumido sem ter necessariamente uma direção conceptual ou uma intenção e podemos observar isso com mais exemplos: 
As músicas com uma duração superior a 15 minutos foram trocadas por músicas com cerca de 2 minutos que têm mais potencial de replay visto que as plataformas de streaming tomaram conta da indústria da música, fazendo com que os artistas tenham de lançar projetos com muita mais frequência para se manterem relevantes.
No caso do Hip-Hop que é o estilo que eu consumo mais, ao longo do tempo podemos observar algumas alterações na estrutura das músicas, com uma nova onda de artistas que abatem o conhecido refrão-verso-refrão-verso-refrão, apresentando agora músicas com apenas 1 verso e 1 refrão, ou apenas 1 verso, algo que não era típico nos anos 90, por exemplo, onde existiam músicas com até 5 versos. O projeto Some Rap Songs de Earl Sweatshirt é um exemplo perfeito desta ideia. 
As próprias regras para o que pode ser considerado um álbum nos GRAMMYS foram alteradas recentemente e foi decidido que para fins de elegibilidade, a Academia define um álbum como tendo não menos que cinco faixas diferentes, e tendo um tempo total de reprodução de não menos que 15 minutos.
Podemos então observar que ao longo dos anos, como nos habituamos a conteúdo rápido e gratificação imediata devido às redes sociais por exemplo, a nossa capacidade de prestar atenção a algo por um período de tempo mais prolongado sofreu consequências.

Miguel Teles nº 13518

Em quê que as marcas tornam-nos? - O novo Citroën 

     Se no meu primeiro texto argumentativo de certa madeira expliquei o surgimento de conexão entre indivíduos com cultos/desejos a marcas, eu agora proponho-me a analisar o lado negativo, de maneira mais profunda o que essas conexões nos deixam ser atualmente. 

    Como explicado no meu último texto argumentativo, este surgimento de ligação entre a pessoa e a marca/carro/empresa ganhou cada vez mais poder ao longo da vanguarda artista “pop art”. No fundo, a pop art passa por ser uma reflexão do quotidiano americano da altura, assim passamos por usar técnicas mais rápidas de impressão como serigrafia, a presença da cara do presidente em grande partes das obras como sinónimo de símbolo e representatividade, o uso de cores vibrantes, a grande aposta em logótipos de empresas e tornar estes logótipos em objetos em todas as casas americanas. Nesta atura estávamos a passar por um enorme boom comercial em toda a América, que mais tarde se expandir também pela Europa. 

    Mas como funciona esta ligação entre o desejo de ter algo? No livro Buyology, o escritor Martin Lindstrom  explica o que são os neurónios espelho e como eles nos influenciam no dia a dia, no fundo, estes neurónios estão presentes no nosso cérebro e consistem na ligação entre a nossa visão e desejo. Quando alguém observa uma pela de roupa numa publicidade, com uma/o modelo, esta pessoa visualiza-se a ser o/a modelo nesse momento com a peça de roupa vestida. Aqui é criada no nosso cérebro uma ideia de desejo/necessidade de se apresentar de x maneira, neste caso, como a/o modelo.

    Este foi um “segredo” guardado por grandes empresas de publicidade de marketing por muitos anos, hoje, nós temos certas atitudes/compras que certas vezes não são mais do que o desejo de comprar/desejo de se sentir como vemos e não por necessidade. 

    Esta ligação entre a pessoa e o desejo ganhou muito mais relevância quando houve o surgimento de redes sociais, isto também é refletido num documentário disponível na Netflix,  “Fyre festival”, onde uma empresa organizou um grande festival numa ilha e pagou milhões de dollars para que o festival fosse publicidade nas contas de Instagram mais famosas do mundo. Este é mais um exemplo de criação de um desejo, aqui os indivíduos depararam-se com a publicidade das pessoas que seguiam, e querendo ou não lhes cresceu o desejo de aderir ao festival. 

    No texto “o novo Citroën” quando o autor aborda “O novo Citroën cai manifestamente do céu, enquanto se apresenta, antes de mais como um objeto superlativo”, este facto deve-se à criação mental dos indivíduos em relação a este objeto. Está criação nada mais é do que um fruto de uma era comercial, bombardeada de publicidade e imagens mentais de como nos podíamos tornar. 

    Concluindo, esta é uma prática usada pelas marcas, em que de um lado temos o lado comercial das marcas que precisam de vender e o lado do cliente que ganha o desejo de comprar mesmo quando não o deseja, será que presentemente as marcas se aproveitam destas nossas fragilidade e da falta de leis que combatam estes atos para gerar lucro? 


Referências:


Buyology, Martin Lindstrom 2008 

Documentário “Fyre festival” Netflix 

Male gaze no quotidiano

A male gaze é um termo que foi primeiramente usado por Laura Mulvey e é maioritariamente conhecido como a teoria da male gaze.

Esta teoria acontece quando, nos media, as mulheres são vistas pelos olhos de um homem heterossexual e são retratadas como objetos passivos do desejo do homem. Assim, a audiência composta por pessoas de géneros diferentes é forçada a interpretar o retrato da mulher pela male gaze.

Esta representação das mulheres nos media afeta diretamente as mesmas no seu dia a dia. Um exemplo é quando uma mulher está constantemente preocupada com a sua aparência, até mesmo quando está sozinha.

Desde pequenas somos ensinadas como uma mulher deve-se comportar e como a sua aparência deve refletir feminilidade e beleza a qualquer momento do dia para ser apreciada e grande parte desta influência vem do cinema, redes sociais, videojogos e de outros meios de comunicação.

Por essa razão, é comum estarmos preocupadas com a forma como as pessoas nos vêm, com a nossa aparência pois vemos frequentemente as mulheres a serem representadas pela male gaze e não uma mulher simplesmente a viver a sua vida.

É importante nos lembrarmos que ninguém deve ao mundo beleza ou qualquer outra razão para ser aceite. É suficiente sermos quem somos e cada detalhe da nossa aparência não tem de ser convertido em beleza.

Barreiras culturais e Etnocentrismo

    Cada pessoa vive um mesmo momento de forma diferente dependendo de diversos fatores, sendo alguns exemplos destes a idade (num restaurante, uma criança não é atendida da mesma forma que um adulto), o sexo, a altura, a língua falada, entre outros. De entre estes fatores iremos explorar nomeadamente a cultura, que poderá ser considerada uma das principais causas de se sentir esta diferença. Assim sendo, comecemos por definir o conceito de barreira cultural:

"Dificuldades e conflitos causados pelas diferenças culturais e pelas razões por detrás de diferentes costumes, reforço do mal-entendido e do conflito"

    Tomemos como exemplo a seguinte situação:

    Na cultural árabe é muito habitual existir poligamia nas relações amorosas entre homem e mulher, isto é, um homem possuir múltiplas noivas em simultâneo. Esta ideia é muito menos explorada na cultura ocidental, na qual as relações amorosas costumam ser de caráter monogâmico, podendo ser completamente descartada e mal vista a ideia de existirem mais de duas pessoas numa relação.

    Estas diferenças levam a que existam manifestações culturais. Uma forma de manifestação é uma das culturas querer impor os seus costumes sobre a outra, como aconteceu na altura das colonizações europeias na América do século XV, por exemplo. Outro género de manifestação, podendo esta ser também considerada uma revolta, é o BLM (Black Lives Matter), embora esta tenha uma origem étnica e não propriamente cultural, podendo ainda assim ser estabelecida a analogia, na qual é pedido por parte de uma das “culturas” os mesmos direitos que a outra.

    Será o mundo de hoje mais inclusivo de diversas culturas que era há uns séculos atrás? Apesar de muitos debaterem que sim, ainda existem atualmente manifestações causadas por estas diferenças culturais, como foi referido no último exemplo.

    Estas manifestações acontecem sobretudo por causa do etnocentrismo presente em cada um de nós. Devemos então deixar de olhar para outras culturas como “outras”, mas sim perceber e respeitar os seus costumes.

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O meio de Comunicação

 

A natureza é governada por leis de causa e efeito, algo que não necessita de ser aprendido, logo os animais são consequentemente também eles seres naturais. O mesmo se pode dizer do ser humano á nascença. Qualquer recém-nascido é incapaz de, á partida, expressar-se, falar, conseguir entender um idioma e até mesmo comunicar com os seus progenitores, uma vez que todas estas atividades necessitam de aprendizagem. Assim podemos afirmar que os recém-nascidos, são de facto, seres naturais.

Porém, estes interagem com outros Humanos. Esta relação com outros seres culturais, possibilita a aprendizagem de vários hábitos (cultura), sendo um deles a fala. A fala nada mais é que a produção organizada e lógica de sons. É facilmente compreendida como cultura, pela simples razão de que cada país tem o seu próprio idioma (reprodução lógica de sons), algo que exige aprendizagem por parte das pessoas.

Em suma, a fala distingue natureza de cultura, na medida em que é utilizado o que a natureza nos oferece (características físicas, cordas vocais...) e nos possibilita reproduzir sons, e transforma em algo cultural, que nos permite comunicar e expressar através de uma forma organizada de produção de sons.

Mitos do Natal

© Sara Varatojo (2021)

Em Dezembro, a nossa vida pública fica contagiada pelo espírito natalício . As luzes e músicas de Natal ocupam as ruas das cidades, as lojas e os centros comerciais, os meios de comunicação e a publicidade.

Celebramos o nascimento de Jesus Cristo, um acontecimento tão importante que dividiu a nossa História em antes e depois. 

Na nossa consciência colectiva, celebrar o nascimento de Jesus é celebrar a natalidade, a família, a fraternidade. 


Os mitos de Natal encorajam a compaixão, o amor pelos outros, a partilha. Há expressão de afecto e generosidade na troca simbólica de presentes entre amigos e familiares. Os presentes, como dádiva, consolidam laços e destacam-se da troca impessoal de mercadoria.

Contudo o Natal é, efectivamente, uma época de consumismo à qual é (quase) impossível escapar.  Seja qual for a nossa religião, todos podemos desfrutar do ritual. Todos trocamos presentes.

A família e a figura do Pai Natal legitimam essa troca de  presentes.

O Pai Natal, provavelmente a figura mais conhecida no mundo (pela hegemonia dos EUA e da indústria cultural que o reproduziu)rivaliza com a figura de Jesus Cristo.

O Pai Natal está presente nos filmes, nas histórias infantis e na publicidade, que reproduzem e difundem normas sociais, a cultura, a ideologia. 

A publicidade ancora-se em símbolos que valorizamos e desejamos. Acentua, com luz e música, imagens de reuniões de família, imagens de conforto. Enquadra objectos produzidos em massa como presentes ideais para alguém que nos é querido. Cria mitos. 

Vivemos em sociedades que também se baseiam em mitos de individualidade e escolha, mas muitas das nossas escolhas são condicionadas por factores que não controlamos nem questionamos. Somos construídos colectivamente através da nossa cultura. 

O consumo, influenciado por tradições, crenças, normas, ideologias, é cultural porque, ao consumir, estamos a reproduzir a nossa cultura. 

Comprar presentes é uma expectativa social e os presentes que oferecemos conferem-nos distinção social. Comprar presentes é aderir ao Natal, é o ritual que nos envolve na economia de mercado. Participamos e reforçamos o consumismo.  O Pai Natal, que distribui presentes, legitima a participação nessa economia de mercado. E ainda que a religião cristã rejeite o materialismo, consente que tradições e sentimentos sejam utilizados para obter lucro.

Estabelece-se assim o paradoxo do espírito natalício; o paradoxo entre o que assumimos valorizar no Natal e o consumo exacerbado, o materialismo e a ganância; entre o feriado religioso, o amor, a união, a dádiva e a actividade altamente lucrativa, a abundância de objectos, a posse. 


A felicidade em reunir a família à volta de uma árvore cheia de presentes que brilham contrasta com a angústia e desânimo de quem não consegue pagar as contas ou de quem está só. Com a esperança despedaçada como os papéis de embrulho.

“The Trial of the Chicago 7”, resistência e incorporação

  Um dos mecanismos de auto manutenção do capitalismo tardio é a incorporação cultural . Esta consiste na capacidade da ideologia predominan...